Histórico e Objetivos
Proposta de criação de Pós-graduação em Medicina Tropical na área de Doenças Tropicais e Saúde Internacional, nos níveis de Mestrado Acadêmico e Doutorado.
Instituição Proponente
UNIVERSIDADE DE SÂO PAULO
Instituto de Medicina Tropical de São Paulo
Colegiado competente da Unidade
Conselho Diretor do IMTSP – Aprovado em reunião ordinária em 10 de Maio de 2005.
Comissão de Pós-Graduação do IMTSP
Prof. Dr. Heitor Franco de Andrade Jr.(Coordenador)
Prof. Dr. Paulo César Cotrim
Prof. Dra. Vanda Akiko Ueda Ficks de Souza
Área da CAPES
Medicina II – Moléstias Infecciosas e Parasitárias.
Diploma
Os mestres e doutores serão diplomados em Ciências, dentro do programa de Medicina Tropical, pela Universidade de São Paulo, na área de Doenças Tropicais e Saúde Internacional, de acordo com as normas vigentes na USP e dentro do regulamento específico do programa.
Proposta
A presente proposta tem por objetivo a criação do Programa de Pós-Graduação em Medicina Tropical, na área de Doenças Tropicais e Saúde Internacional, no Instituto de Medicina Tropical de São Paulo (IMTSP) da Universidade de São Paulo, em nível de Mestrado e Doutorado. A área de estudo das Doenças Tropicais e Saúde Internacional envolve o conhecimento sobre os agentes e as doenças de maior ocorrência nas regiões tropicais e subtropicais do Mundo, em seus vários aspectos, como biológicos, bioquímicos, imunológicos, patogenéticos, terapêuticos e epidemiológicos, incluindo a dinâmica da transmissão internacional de doenças, com avaliação e produção de insumos para diagnóstico, terapia e prevenção, visando seu controle e possível erradicação.
O Mestrado tem por objetivo específico o estabelecimento e aprofundamento do conhecimento técnico e acadêmico em graduados da área da saúde, possibilitando a formação de docentes de ensino superior em Medicina Tropical, na área de Doenças Tropicais e Saúde Internacional.
O Doutorado tem por objetivo específico formar pesquisadores em Medicina Tropical, para expansão de conhecimentos na área de Doenças Tropicais e Saúde Internacional, com independência cientifica e capazes de desenvolver projetos próprios, consolidando sua capacitação didática e de orientação, com o desenvolvimento da habilidade de conduzir de maneira independente pesquisas originais na área.
Justificativa
Nossa proposta visa à criação de um programa de pós-graduação nas áreas do conhecimento que representam a interface entre a Medicina e a Saúde, pelo estudo de agentes e doenças de ocorrência em regiões tropicais do Mundo. Como veremos a seguir, um campo antigo do conhecimento, a Medicina Tropical é uma parte pujante do conhecimento cientifico e o conjunto de seu conhecimento é o objetivo de nossa instituição, participando inclusive de sua denominação. O conhecimento sobre as doenças tropicais de ocorrência em nosso meio é um objetivo institucional facilmente compreensível, mas que precisa ser ressaltado, diante dos recentes e contínuos avanços no conhecimento humano e das atuais mudanças sociais, necessitando de revisão continuada. Além disso, a pós-graduação pretendida virá a criar uma área voltada para a interface do conhecimento entre a Medicina e a Saúde humana, independente de fronteiras nacionais ou regionais na atual globalização, denominada Saúde Internacional, cujo objetivo é garantir a saúde plena em todos os recantos de nosso planeta, pelo conhecimento das doenças de uma região por outros países e cientistas, visando a produção de conhecimentos e insumos que promovam a proteção contra elas.
A característica essencial da Medicina Tropical é a produção de conhecimentos e intervenções visando a promoção da saúde individual e coletiva, servindo de interface entre a Medicina propriamente dita, executada exclusivamente por médicos e as Ciências que produzem o conhecimento dos agentes infecciosos e sua biologia, onde inúmeros outros profissionais interagem para atingir o fim comum, a plena Saúde Internacional. Este fato pode ser comprovado pelo perfil de nossos orientadores, que pertencem sempre a esta interface, nosso alvo principal, pela aliança de várias áreas do conhecimentos para a eliminação de males que afetam a nossa população.
No atual processo mundial de globalização, a importância da Medicina Tropical clássica será associada a novos encargos e funções. A antiga medicina dos portos, onde apenas os países tropicais eram fontes de transmissão de doenças exóticas, volta a ter importância com o desenvolvimento de meios de transporte mais eficientes que geram a rápida disseminação de doenças em ambos os sentidos, tanto dos paises tropicais para os desenvolvidos, mas também destes para os tropicais. Assim, tanto a malária pode ser um problema para turistas retornando de pescarias na Amazônia ou no pantanal mato-grossense, como epidemias de doenças, como gripe, podem ser veiculadas para países africanos aumentando a mortalidade em países tropicais. A pandemia da AIDS é um outro exemplo clássico de distribuição mundial de uma doença infecciosa.
Recentemente tivemos duas mobilizações mundiais de prevenção à transmissão de doenças (pneumonia asiática e influenza associada ao frango), com intervenções internacionais necessárias, para as quais vemos a necessidade de manter e estabelecer uma nova massa crítica científica e tecnológica nacional na área, evitando-se a mera aceitação de conceitos impostos por outros países ou organizações internacionais.
O Instituto de Medicina Tropical de São Paulo (IMT-SP) sempre atuou visando a pesquisa e o desenvolvimento de ferramentas que pudessem melhorar a saúde no Brasil e América Latina, caracterizando-se como um centro difusor de conhecimentos em Doenças Tropicais e, mais recentemente, em Saúde Internacional, em consonância com este novo conceito. Essas atuações se caracterizam pela expressiva produção científica de seus pesquisadores, além da editoração da Revista do Instituto de Medicina Tropical de São Paulo, Qualis Internacional e recentemente indexada no ISI, do curso de especialização em Medicina Tropical do IMT-SP, iniciativa do Professor Carlos da Silva Lacaz que de 1960 a 2000 atendeu a um grande número de médicos do Brasil e do exterior.
Os grupos de pesquisa do IMT-SP sempre se envolveram com desenvolvimento de projetos de pesquisa e formação de pessoal voltado para: 1) pesquisa, desenvolvimento e avaliação de insumos para diagnóstico e prevenção de doenças infecto-parasitárias, 2) implementação de estudos multicêntricos voltados ao estudo de endemias, e 3) estudo de agentes infecciosos e sua relação com os hospedeiros, visando obter capacitação tecnológica para o controle das doenças infecto parasitárias. O trabalho constante com essas abordagens originou laboratórios específicos distribuídos em uma área física de 10.000 m2, sob orientação de pesquisadores ligados a projetos de ciência aplicada nesses temas.
A natureza multidisciplinar das atividades de pesquisa e de extensão dos pesquisadores do IMT-SP, associada à sua vocação docente, nos induziu a optar pela criação de um curso de Pós-Graduação em Medicina Tropical, nas áreas de Doenças Tropicais e Saúde Internacional, visando adequar nossa Instituição a uma nova realidade para o ensino de pós-graduação na área da saúde.
O grupo atual de pesquisadores do IMT-SP vem participando ativamente da formação de docentes e pesquisadores. Nos últimos cinco anos, concluíram a orientação de pelo menos 38 mestrandos e 29 doutorandos em áreas correlatas como Doenças Infecciosas e Parasitárias, Microbiologia, Imunologia, Biologia da Relação Patógeno-Hospedeiro, Fisiopatologia Experimental, Saúde Publica, Farmácia, etc. Um aspecto importante desse nosso grupo é a colaboração e a integração entre os diferentes laboratórios. Essa integração permite a análise dos vários fenômenos investigados por diversos pontos de vista e em diferentes níveis, possibilitando estudos interdisciplinares de maior eficácia. Isto se manifesta na diversidade de especialidades e instituições de nossos orientadores, todos considerados consolidados pelos órgãos superiores de nossas instituições universitárias e cientificas.
Dessa forma, prevemos um potencial emergente na interação nacional e internacional com instituições de pesquisa e ensino, bem como aplicação em Saúde Internacional, como já ocorreu com OMS, OPAS, Johns Hopkins University, Keio University e que vem ocorrendo atualmente com a London School of Hygiene and Tropical Medicine e a FUNASA.
O desenvolvimento futuro do IMTSP prevê que se torne um centro provedor e avaliador de conhecimentos em Medicina Tropical, visando a formação de profissionais e cientistas capazes de lidar com os novos avanços e sutis detalhes dos novos processos de conhecimento e manejo de doenças em risco de estabelecimento em novas regiões, através de estudos sobre o agente, a doença, sua terapia e sua prevenção. Como objetivo distante, a Saúde Internacional prevê a igualdade do risco de transmissão de doenças em populações humanas, evitando-se os atuais desníveis no desenvolvimento social entre nações, que resultam no inquietante sucesso das doenças tropicais como doenças de difícil controle e ainda sem nenhuma expectativa de prevenção vacinal.
Nesse novo tipo de relações internacionais, faz-se necessária a constante atualização de conhecimentos, campo perfeito para a atuação de nosso Instituto. A necessidade de aprimoramento no conhecimento da transmissão internacional de doenças, do planejamento estratégico de seu controle e avaliação e produção de insumos indispensáveis para seu diagnóstico e prevenção são as metas primárias, sendo a meta secundária a constante atualização e pesquisa devido ao continuo sucesso destas desafiantes doenças, prevalentes apesar das várias medidas instituídas, que justificam plenamente a formação de pessoal especializado na área.
Dentro do escopo administrativo dos órgãos superiores da USP e da CAPES, a proposta de criação da pós-graduação em Medicina Tropical foi idealizada dentro de princípios sólidos e fundamentais, visando a absorção de novos orientadores e com o potencial para alcance de níveis 5 e 6 da CAPES em curto prazo. Para tanto, consulta criteriosa a documentos formais e reuniões com assessores da CAPES e da Pró-Reitoria de Pós-Graduação da USP nortearam os proponentes para a presente proposta.
O primeiro quesito foi o nome do Programa, inicialmente proposto como de Doenças Tropicais e Saúde Internacional, de difícil compreensão e sem área especifica na CAPES. Em discussões com os assessores e com membros dos comitês centrais da CAPES, ficou claro que a proposta simples de repetir o consolidado nome da Instituição seria a forma ideal de denominar nosso programa, claramente vinculado ao Instituto e já utilizado por 05 programas formais na CAPES. Isto representou um passo significativo, já que associa o nome do programa à unidade que o propõe, e estende o reconhecimento da unidade, que lhe é dado pelos órgãos superiores da USP, para o seu programa de pós-graduação, permitindo a maior identidade do programa com a unidade.
A nova denominação definiu a área em que o programa seria inserido na CAPES, a saber, a área de Medicina II. Baseando-se nas normas da CAPES e da área especifica para criação de novos programas, foi definido o tipo de orientador protótipo do programa., que estes deveriam ser orientadores consolidados, com vinculação institucional e capacidade cientifica e de formação de pessoal. Nesse contexto, incluímos orientadores permanentes pesquisadores com atividade há mais de dois anos na USP credenciados em outras áreas da USP, mas que podem participar de mais de um programa de pós-graduação de uma mesma Instituição, aqui entendida como a alma mater, a Universidade de São Paulo.
As exigências para orientadores permanentes pela CAPES visam consolidar os suportes institucionais do programa, valorizando àqueles vinculados à Instituição há mais tempo e em dedicação integral constante, com pelo menos 40 horas semanais a USP. Cada um deles pode ampliar o seu leque de orientações em dois programas dentro da mesma Instituição, o que é um objetivo meritório e desejável, visando ampliar os horizontes da formação do pós-graduando e diversificar as interações dentro da Instituição, evitando-se um enclausuramento em linhas e programas temáticos muito restritos.
As exigências numéricas da CAPES para a criação de um Programa são claras e definidas, em especial na área de Medicina II, exigindo-se 10 orientadores permanentes, sendo que 60% destes devem ter dedicação de pelo menos 40 horas na instituição, ou seja, 06(seis) docentes do programa em tempo integral ou 40 hs na USP para esta proposta.
Nesse norteamento, participam do programa 11 orientadores permanentes da USP, sendo que a grande maioria é dedicada ao IMTSP (7/11), há mais de 05 anos na USP, a maioria com bolsa de produtividade em pesquisa do CNPq (8/11), todos com pelo menos uma dissertação ou tese defendida e ~90% destes, 10 de 11, trabalhando em regime de RDIDP. Estes perfis e números preenchem completamente os requisitos da CAPES e da área de Medicina II proposta para o programa, de acordo com as normas e instruções vigentes, como pode ser visto na tabela I, descritiva dos dados numéricos solicitados em comparação com os da presente proposta.
Como todo Instituto especializado da USP, o IMTSP, apesar de sua administração própria, é vinculado em questões docentes a Congregações de outras Unidades, como a da FMUSP, e seus docentes, embora vinculados formalmente à FMUSP ou outras unidades da USP, estão lotados em laboratórios do IMTSP, onde exercem suas atividades de pesquisa e pós-graduação. Esta característica especial é uma vantagem operacional, permitindo um tipo de pesquisa laboratorial aplicada que consolida os conhecimentos em Medicina Tropical, uma área cientifica que visa não o manejo direto de pacientes, mas o estudo da doença, sua transmissão, prevenção, epidemiologia e ecossistemas, seus vetores e outras áreas cientificas correlatas.
Tabela 1 – Comparação entre os valores numéricos exigidos para apresentação de proposta de programa de Pós-Graduação na CAPES, área de Medicina II, e nossa proposta.
Critério Mínimo CAPES para credenciamento de novos programas | Área de Medicina II | Proposta IMTSP |
Docentes do programa | 10 | 11 |
Docentes Permanentes* | 10 | 11 |
Docentes com mais de uma orientação concluída | – | 13 |
Docentes especiais | Nenhum | Nenhum |
Pesquisadores CNPq | 0 | 8 |
Docentes há mais de 05 anos | 6 | 11 |
Projeto de pesquisa com recursos vigentes | – | 10 |
*Docentes permanentes podem orientar em mais de um programa da mesma instituição, mas no máximo em dois programas, conforme normas da CAPES e da área.
Incluímos um elenco de disciplinas dividido em dois grandes grupos, um já consolidado baseado em disciplinas ativas dos orientadores permanentes já oferecidas e bem avaliadas e um grupo de novas disciplinas, instigantes e voltadas para o desenvolvimento e atualização de conceitos, para formar nos alunos uma mentalidade crítica sobre o desenvolvimento do programa e das áreas de estudo dentro das novas necessidades do Mundo.
Esperamos conseguir com essa constante interação entre o consolidado e o novo uma formação de pessoal cientifico capaz de oferecer a Sociedade soluções novas, eficazes e eficientes para os antigos problemas da Medicina Tropical e as questões emergentes da Saúde Internacional.